The 100 - 1° Temporada

 

Ao assistir The 100 é inevitável que se repare duas coisas: a carona que a série pegou na febre da “ficção-teen” e sua certa semelhança com Lost e Battlestar Galactica, duas séries icônicas da televisão. A primeira vista, tudo indica uma receita quase perfeita para o desastre, mas superando todas as (minhas) expectativas, a primeira temporada do seriado vai muito além de só entretenimento distópico banal para adolescentes.

O enredo da série apresenta uma raça humana decadente que foi obrigada a abandonar a Terra após uma guerra nuclear. Por três gerações, homens e mulheres foram forçados a viver em uma estação espacial controlada por um regime extremamente rígido onde qualquer violação da lei tem como principal punição a morte. Após tanto tempo no espaço a comunidade começa a sofrer com a escassez de recursos e o iminente perigo de extinção. Assim começa The 100, em um cenário após o apocalipse e antes da completa aniquilação da raça humana. Em uma tentativa desesperada, um plano de ação nada convencional é colocado em prática: 100 jovens condenados a pena de morte são enviados de volta para Terra com o objetivo de descobrir se o planeta voltou a ser habitável. Caso sobrevivam, a raça humana poderá ser salva e finalmente voltar para casa. Se morrerem... bem, era isso que ia acontecer com todos eles de qualquer jeito.

Eis que tudo começa. A série é dividida em dois núcleos: os adultos, políticos, militares, pais e mães definhando no espaço e os adolescentes sozinhos em uma Terra muito diferentes daquela que eu e vocês conhecemos. Uma crise cada vez pior na estação espacial em contraste com a liberdade e esperança de um futuro melhor em terra firme.

É necessário dizer que os primeiros episódios não são nem um pouco empolgantes. O seriado abusa das intrigas, complôs e conspirações para firmar sua trama, deixando tudo muito arrastado. Na estação espacial acontecesse uma tentativa de assassinato ao Chanceler Jaha (o presidente da comunidade, interpretado por Isaiah Washington), enquanto na Terra os garotos e garotas entram em um conflito moral sobre dar prosseguimento a suas vidas e abandonar seus semelhantes no espaço ou ajuda-los e reunir toda a comunidade. Sem contar o drama familiar da personagem principal, Clarke Griffin (Eliza Taylor) que só contribui para deixar tudo mais irritante, meloso e exageradamente dramático.

Por mais chato que seja, isso se transforma em uma das principais qualidades de The 100. A série não alonga nem “mastiga” demais seus mistérios e é repleta de reviravoltas inesperadas. Não demora quase nada para vocês descobrir quem tentou assassinar o Chanceler ou o que realmente aconteceu com o pai de Clarke ou quais são as motivações por trás das conspirações. Sem muitas delongas, o seriado também introduz o verdadeiro foco da temporada.

Acredito que nesse ponto você já deve ter deduzido qual é esse foco. Não? Você teve algumas dicas pelo caminho, mas tudo bem.  A primeira temporada apresenta ao espectador os “grounders”, pessoas que sobreviveram à crise nuclear e ainda vivem no planeta. Meio previsível, não? Mais previsível ainda é que, obviamente, eles são hostis.

Lá no início eu falei que a série tinha certa semelhança com Lost e isso vai muito além da presença de Henry Ian Cusick (Desmond!), interpretando o Conselheiro Marcus Kane. O seriado explora muito bem esse mistério dos “Outros”, os selvagens que vagam pelas florestas atacando, matando e sequestrando a molecada vinda do espaço. Felizmente The 100 não seguiu o mesmo ritmo de Lost e lá pro meio da temporada já é possível conhecer um pouco melhor essas pessoas, oferecendo respostas para algumas perguntas e dando profundidade a outros mistérios mais importantes.

Talvez esse seja o principal motivo para o seriado ter superado as minhas expectativas e agarrado minha atenção. Existe um equilíbrio entre a inserção de novas perguntas e mistérios com o desenvolvimento da trama já estabelecida. O desenrolar dos humanos no espaço, assim como a criação de uma nova sociedade composta apenas por adolescentes curiosos, inocentes e irresponsáveis fluem muito bem com a questão mais ampla: quem são e como essas pessoas sobreviveram a guerra? Até o “quadrado” amoroso proposto tem uma dinâmica interessante que, apesar de ser bem teen, não incomoda e nem se transforma em algo de grande relevância nos episódios.

Por fim, a série mantem um ritmo acelerado por quase toda a temporada, que termina daquela forma que todos nós gostamos: com um grande acontecimento que deixa tudo de ponta a cabeça e te deixa na expectativa para o próximo ano. Apesar de ter seus defeitos, abusar demais do título de “seriado adolescente” em algumas partes e contar com algumas atuações de gosto duvidoso, The 100 foi uma agradável surpresa para 2014 e promete ser um bom sci-fi para se acompanhar.


Ah! O seriado é baseado no livro homônimo de Kass Morgan e publicado aqui no Brasil pela Editora Galera. Eu não li e, aparentemente, quem leu não tem tantos elogios assim para a série de TV. Caso curta, fica a dica para procurar!


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