Noé (2014)


Não é um épico religioso, mas também passa longe de ser um típico blockbuster. Talvez esse seja o maior problema de Noé. As duas horas de filme vagam em um limbo entre a história religiosa do Velho Testamento que conta sobre o grande dilúvio e cenas de ação, lutas, destruições e gigantes mágicos de pedra. É confuso, é estranho e, sinceramente, é ruim.

Particularmente, o Darren Aronofsky é um diretor que eu gosto bastante. Réquiem para um Sonho e Pi entram na minha lista de filmes inesquecíveis e mesmo seus últimos trabalhos foram muito bem recebidos pela crítica (Lutador e Cisne Negro). Mas o projeto de Noé não condiz muito com a carreira do diretor.

O filme se apega a questão moral da maldade presente no homem. Após a “perversão” de Adão e Eva e o fim do Paraíso, a crescente ganância do povo destruiu a paz na Terra. Isso é passado de forma interessante, e boa parte da obra é ambientada em um mundo apocalíptico, cinza, arruinado. Eis que Noé é encarregado pelo criador para salvar as almas dos inocentes (todos os animais) da catástrofe que virá. Para isso, ele conta com a ajuda de uma semente mágica – que cria uma imensa floresta para a construção da arca – e de gigantes de pedra, que são seres divinos (anjos?) aprisionados na Terra.

O desenrolar do filme é cansativo, com conflitos internos na família de Noé e a crescente ameaça dos homens que pretendem tomar a arca e salvarem a si próprios da extinção. As atuações também não ajudam muito, com um Russell Crowe apático, com a mesma expressão o filme inteiro. Detalhe que, talvez, esse poderia ter sido exatamente o ponto positivo do filme. Um Noé atormentado pelo peso de seu fardo, enlouquecendo aos poucos enquanto está confinado em um barco e tendo a iminente chegada de uma tarefa ainda mais difícil do que abandonar a raça a humana à irá do Criador. Mas não, não vemos nada disso. Jennifer Connelly e Anthony Hopkins fazem sua parte, mas Emma Watson só ajuda o espectador a ficar ainda mais exausto.

Outra coisa que chama a atenção é a pobreza do visual. Para um filme de 125 milhões de dólares, Noé não tem os detalhes que poderia amenizar o enredo fraco. A Arca é apenas um caixote de madeira boiando, os gigantes de pedra são travados, a chegada dos animais é simples, distante e sem grandes alardes e até a cena que mostra a evolução da vida na terra, fazendo um paralelo entre evolucionismo e criacionismo, é pobre, com imagens estáticas trocadas em uma rápida sequencia. Nesse ponto, vale ressaltar que o dilúvio em si em muito bem feito e, apesar de eu ter achado tudo um pouco simplório demais, os efeitos especiais são satisfatórios dentro da proposta do filme.

Por fim, Noé não conseguiu agradar muito. Os religiosos se sentiram “ofendidos” com alguns pontos de vistas e alterações na história. Aqueles que procuraram um filme de ação cheio efeitos especiais, não encontraram. E eu, sempre curioso pelos trabalhos do Aronofsky, lutei arduamente para me manter acordado na madrugada, enquanto a água destruía o mundo, a Emma Watson fazia caretas e o Noé alternava entre mensageiro de Deus e guerreiro do velho mundo.

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